O TEMPO NÃO NOS DÁ TEMPO

 

O TEMPO NÃO NOS DÁ TEMPO

        Já faz tempo que eu observo o tempo e vejo que o tempo não nos dá tempo de aproveitarmos o tempo. O tempo parece ter pressa e vai levando tudo com ele, deixando para trás as suas marcas com a gente e o título de idoso, isto até aos setenta e oito anos; depois, a OMS o classifica com um novo adjetivo: pessoa velha. Que tristeza... Eu já sou uma pessoa velha, deixei de ser um idoso. Pior que o tempo nos deixa com corpo e alma cheios de marcas de cansaço, além de nos deixar com a alma ferida e mergulhada na triste solidão. Eu não gosto do tempo! Ah, o tempo é um devorador!

         O tempo é como uma enxurrada, vai levando tudo. Leva nossos amigos, as visitas ficam escassas, o celular deixa de “tocar” ... Somente os filhos que aparecem de tempo em tempo... Esses chegam felizes e cantantes, fazem um lauto churrasco para o almoço, cujo pai não pode comer em face da fragilidade de seus dentes postiços, e se vão, logo depois. Não há pernoite porque as noras não gostam de ficar fora de sua casa, à noite, e os genros não ficam porque sentem-se incomodados com os tossidos do idoso. Aí, tudo volta à doída rotina: a solidão que machuca. A velhice, ainda, nos apresenta a certeza de como somos insignificantes, fora de nossa fase produtiva. O idoso que, em tempos idos fora a dignidade da família, exibindo o título de patriarca da linhagem, hoje em dia, é um peso social. Triste realidade que não muda mais...

Wenceslau da Cunha

 


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